ACICG

Artigo | Vamos nos conhecer?

Autor: Normann Kalmus*

O último dia 5 de abril trouxe alegria, honra e imensa responsabilidade à diretoria da Associação Comercial e Industrial de Campo Grande (ACICG).

A entidade, que conta com mais de 8.600 empresas associadas, teve a oportunidade de receber uma missão com importantes empresários do Paraguai, que vieram conhecer empresas brasileiras de diversos setores e portes que, em comum, tinham dois aspectos: a vontade de fazer negócios e a falta de conhecimento do vizinho.

Mato Grosso do Sul compartilha 1.365 km de fronteira com o Paraguai, na qual contamos com seis conurbações (Sete Quedas, Paranhos, Cel. Sapucaia, Sanga Puitã, Ponta Porã e Bela Vista). No entanto, não conseguimos compreender até agora que fazemos parte de uma mesma região econômica, com uma gigantesca possibilidade de complementaridade e, portanto, de desenvolvimento conjunto e harmonioso.

Um círculo com raio de mil quilômetros centrado em Campo Grande, define uma área que abrange todo o território do Paraguai e Mato Grosso do Sul, além de Paraná, Santa Catarina, parte do Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Goiás, Brasília e quase todo estado de São Paulo, sem contar parte da Bolívia e Argentina. A população dessa região ultrapassa os 100 milhões de habitantes.

Como se não bastasse temos, cortando o território, a hidrovia mais importante sem eclusas e com 3.442 km de extensão, de Cáceres à Nueva Palmira, no Uruguai. Essa “avenida” monumental possibilita o transporte de mercadorias com fretes imbatíveis, mas é pouco utilizada para o transporte intrarregional do Mercosul.

O Paraguai conta com a terceira maior frota de barcaças do mundo e com total controle da hidrovia, além de uma legislação comercial mais flexível, mas não aproveita a possibilidade de chegar ao mercado das regiões sul e centro-oeste do Brasil com seus produtos.

Por sua vez, as empresas brasileiras não perceberam a possibilidade de importar utilizando essa modalidade logística eficiente, segura e barata.

A utilização do modal fluvial por ambas as partes melhoraria a eficiência dos comboios de barcaças utilizados para as exportações paraguaias, que após descarregar sua carga nos portos uruguaios ou argentinos, quase sempre retornam vazios aos seus portos de origem. Isso gera uma oferta muito boa de porões de carga, que os empresários brasileiros poderiam aproveitar para transportar mercadorias de diversas procedências, rio acima.

Com essa estrutura, as empresas do Centro-oeste poderão ser mais competitivas do que os tradicionais importadores do Rio de Janeiro ou de São Paulo. Por sua vez, será benéfico para as demais partes envolvidas neste processo, pois o exportador paraguaio não pagará mais frete vazio para a viagem de volta, o importador brasileiro não pagará frete vazio para a ida, e a transportadora completará seu “Round Trip” com carga.

Um importador de São Paulo para trazer uma mercadoria de Buenos Aires percorre 2.222 km por estrada e para Campo Grande, mais 982 km, num total de 3.204 km. De Montevidéu, as distâncias são semelhantes.

Realizando a importação direta para Campo Grande por via fluvial, o valor do frete seria equivalente a cerca de 700 km por via rodoviária. Estamos falando de distâncias econômicas, não apenas distâncias geográficas.

Não se trata de esquecer mercados distantes, mas de explorar os recursos que temos do outro lado da rua e que terão um enorme impacto positivo nas economias regionais e em nosso povo.

*Economista-chefe da ACICG – Associação Comercial e Industrial de Campo Grande

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