MCV-PJ revela que cenário político tem influenciado no comportamento dos empresários, que estão comprando apenas para repor estoque
A pesquisa do Movimento do Comércio Varejista (MCV) produzida pela Associação Comercial e Industrial de Campo Grande (ACICG) mostrou que, o mês de março atingiu 93 pontos, apresentando certa estabilidade nas vendas em relação ao mesmo período do ano passado, quando registrou 92 pontos, e superando em dez pontos o índice alcançado no mês de fevereiro (83). Porém, apesar de estar vendendo mais, o levantamento revela que os empresários continuam cautelosos e estão comprando menos que nos anos anteriores. Um dos motivos é o cenário de incertezas políticas que afetam a economia.
Normann Kallmus, economista-chefe da ACICG explica que a média de Movimento do Comércio (MCV) do trimestre de 88,6 pontos, contra os 81,3 do mesmo período em 2016, não deixa dúvida em relação à melhora nas condições gerais, mas que outros fatores ainda preocupam. “São aspectos que parecem retardar a retomada da economia e, infelizmente, estão fora da área de atuação da equipe econômica e do empresariado. Era previsível que o resultado do mês fosse superior a fevereiro, mas não estava no radar que um dos setores de maior reconhecimento internacional passasse pelos dias de absoluta incerteza como aqueles provocados pela operação Carne Fraca”, analisa.
O economista avalia ainda que, no entanto, não se pode atribuir exclusivamente a operação da Polícia Federal a fraca recuperação do mercado. “Na prática, esse é o preço que pagamos pela absurda concentração de renda nas mãos do Estado. Sem margens para reinvestir, o empresário local se vê às voltas com a necessidade de reestruturar suas operações para controlar custos, gerando ainda maiores problemas macroeconômicos, em especial a grande incerteza derivada da concentração da receita pública em umas poucas empresas ou setores cujo envolvimento na operação Lava-jato já é conhecida”, complementa.
Metodologia – O MCV/ACICG é um índice apurado a partir da evolução dos dados do setor, englobando as transações realizadas entre empresas e também entre consumidores e o comércio. Considerando a sazonalidade característica da atividade comercial, o MCV foi desenvolvido com base fixa definida pela média do desempenho do ano de 2014. O Índice é composto de dois outros sub índices que ajudam a avaliar sua evolução: o MCV-PF, que analisa as transações entre Pessoas Físicas e as empresas do setor terciário, e o MCV-PJ, que avalia as transações entre as empresas.
O MCV-PF de março foi de 93, contra 91 no mesmo mês de 2016, 106 em 2015 e 90 em 2014. Este indicador é o que melhor explica o desempenho positivo em relação ao ano passado. Já o MCV-PJ foi de 92 pontos, contra 101 em março de 2016 e 111 em 2015. A queda no MCV-PJ em relação ao ano passado, de acordo com Kallmus é o maior problema registrado na análise do boletim do mês de março.
“O comportamento desses indicadores, já observado em outros meses, parece sugerir que estão ocorrendo duas alterações significativas no comportamento das empresas do setor, que é responsável por mais de 75% do PIB, em valores agregados do município. Em primeiro lugar, as empresas não estão fazendo estoque, o que pode ser observado a partir do comportamento muito similar entre os MCV-PF e MCV-PJ. Esse comportamento poderia ser até considerado dinamizador da atividade, não fosse o fato de que acaba simultaneamente reduzindo a velocidade de circulação da moeda e reduzindo as vantagens comparativas em relação à concorrência externa”, detalha Kallmus.
Ele complementa informando que o outro aspecto a ser destacado é derivado da observação do fechamento de empresas e da alteração da atividade principal, de revenda a representação. “O reflexo no PIB será importante porque não só retira postos de trabalho, como também reduz o valor agregado do setor e, com isso, trazendo mais queda de arrecadação de tributos”, finaliza Kallmus.
Perspectivas
O economista-chefe da ACICG lembra que abril não costuma ser um mês forte para o varejo, e fala que não há indicativos de que 2017 será melhor. O reduzido número de dias úteis, aliado às incertezas na esfera nacional e seus reflexos diretos no âmbito da economia local, não projetam um cenário muito favorável para o primeiro mês do segundo trimestre.
Análise da Conjuntura
Por Normann Kallmus[1]
O momento é bastante crítico para a economia. Do ponto de vista da política monetária, praticamente não há espaço para surpresas boas. A queda dos juros e da inflação já estão dentro das expectativas (precificados) dos agentes econômicos e, portanto, não deverão impactar de forma importante, ainda que possam surpreender positivamente. Já não se pode dizer o mesmo em relação aos temas com potencial impacto negativo.
Estamos literalmente às cegas no que concerne à governabilidade do país. Congressistas comprometidos nas últimas revelações do esquema de corrupção, parecem estar mais interessados em manter seus privilégios do que em fazer avançar as reformas. O grande teste para o governo Temer está próximo e depende, em essência, da votação das medidas de alteração da legislação trabalhista e da previdência, sem o que, perde-se a possibilidade concreta de organizar a economia para os próximos anos.
Se o governo municipal conseguir estabelecer uma política econômica coerente com os potenciais produtivos do município, bem como demonstrar preocupação com a lisura dos processos, poderá obter vantagens na captação de recursos absolutamente essenciais para mudar a estrutura produtiva local.
[1]Normann Kallmus é economista-chefe da Associação Comercial e Industrial de Campo Grande (ACICG), especialista em Gestão do Conhecimento (COPPE/UFRJ), Administração de Projetos Logic-Frame (BID) e Educação Ambiental (SENAC).