MCV-PJ revela que alta carga tributária influencia no comportamento dos empresários que deixaram de comprar em grandes quantidades, e passaram a apenas repor estoque
A pesquisa do Movimento do Comércio Varejista (MCV) realizada pela Associação Comercial e Industrial de Campo Grande (ACICG) mostrou que, o mês de fevereiro deste ano apresentou alta nas vendas em relação ao mesmo período de 2016. Resultado positivo, apesar de o movimento ter ficado sete pontos abaixo do índice registrado no mês de janeiro. O MCV alcançou 83 pontos, cinco acima do mês de fevereiro de 2016.
Normann Kallmus, economista-chefe da ACICG explica que esse resultado marca o quarto mês consecutivo com um desempenho melhor do que o mesmo mês do ano anterior. “Como mencionado no último Boletim Econômico, era esperada uma redução no desempenho do indicador do mês fevereiro, no entanto, os números atuais são definitivamente mais animadores do que aqueles que tínhamos em 2016. Enquanto, por exemplo, no ano passado tivemos uma queda abrupta da agricultura, este ano a previsão é de uma exportação 10% superior à do ano passado. A inflação, que estava na casa de dois dígitos, agora é projetada em 4,07%, quase meio ponto abaixo da projeção do mês de janeiro”, conta.
A análise do gráfico abaixo evidencia uma melhora gradativa, principalmente a partir de agosto de 2016. “Janeiro e fevereiro tradicionalmente apresentam quedas no desempenho do comércio varejista, mas pode-se verificar que nos dois meses deste ano, os resultados foram melhores do que em 2016. Do ponto de vista econômico, portanto, quer no cenário nacional, quer no local, os indicadores são de recomposição”, complementa Kallmus.
Metodologia – O MCV/ACICG é um índice apurado a partir da evolução dos dados do setor, englobando as transações realizadas entre empresas e também entre consumidores e o comércio. Considerando a sazonalidade característica da atividade comercial, o MCV foi desenvolvido com base fixa definida pela média do desempenho do ano de 2014. O Índice é composto de dois outros sub índices que ajudam a avaliar sua evolução: o MCV-PF, que analisa as transações entre Pessoas Físicas e as empresas do setor terciário, e o MCV-PJ, que avalia as transações entre as empresas.
O MCV-PF de fevereiro foi de 84 pontos, contra os 78 registrados no mesmo mês de 2016, 90 em 2015, e 87 em 2014. “Percebe-se, portanto, que a recuperação só pode ser sentida porque estamos comparando com uma base extremamente baixa do ano passado”, afirma o economista.
Para ilustrar a situação dos empresários, o MCV-PJ de fevereiro foi de 76 pontos, contra os 75 alcançados em fevereiro de 2016, e 93 em 2015. “O indicador sofreu queda em relação a janeiro (84), no entanto, foi superior aos indicadores de dezembro (72) demonstrando que as empresas estão buscando somente reposição de estoques, o que deverá trazer consequências à medida que se fizer registrar o aumento nas transações do varejo”, alerta Normann Kallmus.
O economista explica ainda que esse comportamento do empresário reforça a tese da mudança de atitude do setor, a partir do aumento da carga tributária, uma vez que as empresas não podem fazer estoques em função da necessidade de enorme capital de giro para fazer frente à antecipação do recolhimento dos impostos. “Como resultado, muitas empresas migraram da revenda para a representação e, mesmo as que não o fizeram, só efetivam as compras a partir da confirmação dos pedidos, transferindo os custos para o consumidor”, elucida.
Kallmus reforça que que o MCV-PJ de fevereiro foi superior somente ao de 2016, demonstrando que as transações entre empresas continuam abaixo dos valores históricos, como resultado da redução dos estoques.
Curva de Tendência – A Curva de Tendência é um modelo matemático que possibilita projetar o comportamento de uma série considerando impactos sazonais. Essa curva é representada pela linha tracejada amarela, elaborada a partir das médias móveis de 12 meses. “Como se verifica, com esse critério temos agora uma tendência de crescimento do MCV para o próximo mês”, finaliza Normann Kallmus.
Análise da Conjuntura
Por Normann Kallmus[1]
Seguem as resistências políticas a ajustes nos orçamentos públicos, mas sem alternativas após a LC 241, os governos das diversas esferas passam a buscar formas de enfrentar o problema, ainda que nem sempre identificando as melhores alternativas.
O novo aumento da carga tributária no estado trará mais dificuldades para a recuperação do comércio que, sem alternativas, está migrando para outras atividades como, por exemplo, a representação, em vez de revenda.
No nível federal, merecem especial atenção dois aspectos: a provável reforma tributária, que deverá resultar no fim da guerra fiscal entre os estados, e a incerteza em relação às delações que envolvem o presidente Temer.
O avanço necessário da Operação Lava-Jato trouxe para o estado a discussão dos tentáculos da corrupção que estão fortemente relacionados a pelo menos duas grandes empresas aqui instaladas.
Seria importante promover uma diversificação da matriz produtiva local reduzir o impacto de eventuais problemas nesses segmentos.
[1]Normann Kallmus é economista-chefe da Associação Comercial e Industrial de Campo Grande (ACICG), especialista em Gestão do Conhecimento (COPPE/UFRJ), Administração de Projetos Logic-Frame (BID) e Educação Ambiental (SENAC).